Cartografias da consciência espanhola

No Centro de Foz do Iguaçu, entre o calor, o lento comércio de rua e as comidas árabes, aquele que quer encontrar livros tem duas opções: uma livraria de novos com boa curadoria e um sebo enorme e heterogêneo, repleto de bobagens e feito também de nem tão poucos exemplares raros.

Frequentei esse sebo nos intervalos mortos de algumas tardes sem aulas e acabei decorando a disposição de várias estantes, num trabalho de rastreamento paciente que também resultava em algumas compras proveitosas: Marías, Weil, Villalonga, Cozarinsky, entre poucos mais.

Mas em dezembro deixei Foz do Iguaçu e a fronteira tríplice e desde então não pude voltar; deixei, também, um livro sem comprar no sebo do Centro, e a presença do volume — no corredor e na prateleira equivocadas se pensamos no tema — voltava a me inquietar a consciência de quando em quando.

O acervo do lugar está todo na internet e dediquei algumas horas a buscá-lo, em dias alternados: não o encontrava nem pelo título (que, é certo, lembrava não tão precisamente), nem pela editora, nem na demorada pesquisa pelo idioma — algo sempre emperrava na plataforma e o gesto teimava em não se completar.

Até que, uns dias atrás, meses depois da última caminhada sob as camadas de um invencível calor paraguayo (caminhada e calor que se estendiam, ambos, invadindo as noites de beira de rio), o título do livro perdido me veio inteiro, invadindo outro pensamento enquanto dobrava uma roupa, pegava o elevador, adiava uma página ou colocava a água do mate para esquentar.

Cartografías de la conciencia española en la Edad de Oro, agora sim, de Elena del Río Parra, isso, na edição do Fondo de Cultura Económica, e então encontro o livro facilmente em seu labirinto sequestrado; e compro o exemplar e passo a esperar não sem anseios pela chegada deste pedaço de fronteira reconquistada.